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Museu de Ciências Nucleares

Imagem: Concepção artística
Creditos: WalterGomes via IA

O Fenômeno Oklo:
O Reator Nuclear que a Natureza Construiu há cerca de dois bilhões de anos

A história da energia nuclear moderna está repleta de inovações humanas, desde a descoberta da fissão até à construção de centrais elétricas complexas. No entanto, há um capítulo fascinante que precede a intervenção humana em cerca de dois mil milhões de anos: o Fenômeno Oklo. Este evento, que ocorreu no que é hoje o Gabão, na África Ocidental, é a prova de que a natureza, sob as condições certas, pode criar e operar um reator nuclear de fissão.

A Descoberta Inesperada

A história de Oklo começou em 1972, quando cientistas franceses analisavam amostras de minério de urânio provenientes da mina de Oklo, no Gabão. O procedimento padrão exigia a medição da concentração dos isótopos de urânio. O urânio natural é composto por três isótopos principais, sendo o Urânio-235 (U-235) o único físsil, ou seja, capaz de sustentar uma reação em cadeia.

Naquela época, a concentração esperada de U-235 em qualquer amostra de urânio natural na Terra era de aproximadamente 0,720%. Esta percentagem é um valor constante em todo o planeta, devido à meia-vida diferente dos isótopos. Contudo, as amostras de Oklo apresentavam uma concentração ligeiramente inferior, de cerca de 0,717% 2.

Embora a diferença fosse minúscula, era estatisticamente significativa. O que intrigou os cientistas foi o facto de esta percentagem mais baixa ser idêntica à que se encontra no combustível nuclear usado em reatores modernos. A única conclusão plausível era que o urânio de Oklo tinha passado por um processo de fissão nuclear há muito tempo.

O Mecanismo do Reator Natural

Para que uma reação de fissão nuclear em cadeia ocorra, são necessárias três condições que se alinharam perfeitamente em Oklo há cerca de 1,7 a 2 bilhões de anos:

Condição

Papel no Reator Natural de Oklo

Combustível Suficiente Há 2 bilhões de anos, o U-235 era muito mais abundante (cerca de 3% da massa total de urânio) do que é hoje, o que era suficiente para iniciar a reação em cadeia.
Moderador A água subterrânea infiltrou-se no minério de urânio. A água atuou como um moderador, abrandando os neutrões libertados pela fissão, permitindo que estes atingissem outros núcleos de U-235 e sustentassem a reação.
Controle O próprio sistema era autorregulado. Quando a reação atingia uma temperatura crítica, a água evaporava, removendo o moderador e parando a fissão. Quando a rocha arrefecia, a água voltava, e o ciclo recomeçava.

Estima-se que estes 16 reatores naturais tenham funcionado intermitentemente durante centenas de milhares de anos, operando em ciclos de aproximadamente 30 minutos ligados e 2 horas e 30 minutos desligados. A potência gerada era baixa, equivalente a cerca de 100 kW, mas o fenómeno é uma demonstração impressionante da física nuclear em ação, sem qualquer intervenção humana.

O Legado de Oklo: Uma Prova de Segurança de 2 Bilhões de Anos

O Fenômeno Oklo não é apenas uma curiosidade geológica; é uma lição inestimável para a engenharia nuclear moderna, especialmente no que diz respeito à gestão de resíduos.

O reator natural de Oklo gerou subprodutos de fissão (o equivalente ao “lixo” nuclear) durante o seu período de operação. A análise do local revelou que estes produtos de fissão, incluindo elementos radioativos, permaneceram contidos na formação rochosa circundante, movendo-se apenas alguns centímetros ao longo de 2 bilhões de anos.

Este facto fornece uma prova natural e de longo prazo para a segurança do armazenamento geológico profundo de resíduos nucleares. Se a natureza conseguiu conter os subprodutos de fissão durante mil milhões de anos, isso reforça a confiança na capacidade da engenharia moderna de projetar instalações de armazenamento seguro para o futuro.

Conclusão

O Fenômeno Oklo é um lembrete poderoso de que a ciência nuclear não é uma invenção puramente humana, mas sim uma força fundamental da natureza. A descoberta de que a Terra operou a sua própria central nuclear há 2 bilhões de anos desafia a nossa perceção de tecnologia e serve como um estudo de caso natural e incomparável sobre a segurança e a contenção de resíduos nucleares. Oklo é, em última análise, uma prova da longevidade e da estabilidade dos processos geológicos, oferecendo uma perspetiva única sobre o futuro da energia nuclear.

Saiba mais! acesse as fontes:
 

IAEA News

Science History Institute

Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN)

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